TARDES MINHAS
(Claude Bloc)

 
A tarde é morosa. Tem hora que parece que tudo para e a vida também se desacelera. Pra mim, pelo menos é assim. Enquanto isso, o tempo inquieto, se enfeita, tinge o céu de vermelhos e dourados para girar a vida e as semanas que chegam.
 
Então reflito. Fecho-me. Sonho-me. Penso-nos. Calo-me. Olho para as fotos ali, paradas e silenciosas. Olhares e sorrisos perdidos nesses álbuns, ali calados e colados. Momento (re)construído, virando arte na memória.

Reflexos que me fazem reescrever uma história do nada, das quantas vezes que me fragmentei por nada. Das quantas vezes que fui além de mim e superei a fratura de minh'alma e remendei-a sozinha numa dessas tardes.

Na verdade, até hoje não sei se é todo esse silêncio que vejo nas fotos que me faz buscar nelas a mim mesma assim tão intensivamente, nesses pequenos retalhos, nesses pedaços de tempo que vez por outra se ajuntam e se recompõem como essas fotos que observo.

O certo é que ao menos aprendi a conviver com minha própria imagem. Entendo que hoje sou uma mulher que já sabe se olhar no espelho, mesmo tendo ainda, aqui e ali, espelhos em que não me reconheça.

Mas isso tudo é apenas resultado de minhas tardes vazias. Quando minha voz fala mais baixo, mais devagar e às vezes até se cala. Quando procuro reconhecer minha voz nesse novelo por entre outras vozes que me acossam. Quando procuro falar pouco. Para rever essas imagens de mim, em mim.

Hoje, aprendi que sou como um rio, sempre fluindo. E, assim, lá se vai mais uma tarde. Escorrendo entre meus dedos e desfiando as horas. Sei que a espera entre a fala e o silêncio se fecha na hora exata. É apenas uma questão de tempo.