Casulo estacionado

Casulo estacionado

Trinta e dois. Uma cerveja, um cigarro, um incenso e um reggae. Sexta-feira, oito horas da noite. Sozinha, o final de semana é do pai. Fazer o quê agora?Eu penso muito...e lembro. Lembro de tudo o que passou, do que tenho que fazer. Namorado vem chegando, daqui a pouco tá aí. Ele mora aqui. Juntado com fé, casado é. É?Tá, é. Há um tempo atrás, eu escrevia sempre,há um bom tempo atrás, talvez com dezoito. Eu queria ser escritora. Eu disse queria?E a cabeça, ah a cabeça...a cabeça era outra, outra mesmo, eu já não sou eu faz um tempo(cicatrizes!).Eu me perdi em algum momento e não estou me achando. Procuro, mas nem são longuinho. Meus prazeres são os sexuais e os maternais. E também o cigarro e a cervejinha de vez em quando. O incenso e as velas, os óleos essenciais. Livros também me acompanham, mas eu fujo deles, acabo preferindo o ócio, não sei porque. Li outro dia que o ócio foi importantíssimo para o nascimento da filosofia, ora, eu estou em bom caminho. Também ouvi falar que o momento mais transformador progressivo positivo da vida, também é o mais difícil, onde mais sofremos. Não sei se esse é o meu momento mais sofrido, não é não,claro que não, já sofri mais, mas é um momento di-fí-cil!Tenho me sentido um casulo estacionado. Tenho a ansiedade como patologia – disse o psiquiatra , mas não confio nele, só desconfio que possa ter razão, só que a vida anda tão baiana...eu consigo ver os segundos passando, ouço o tic e tac e tudo. Mas já se passaram tantos meses, meu Deus, os segundos rastejantes se transformam em mares agitados de tempo, como pode isso?A percepção do tempo é algo muito complexo, onde há equilíbrio, como se encontra?Acabei de achar um passarinho morando no meu mensageiro dos ventos, é um buraquinho do tamanho de uma moeda de um real, um pouco maior. Eu o assustei quando fui encaixar o olíbano nele, será que ele volta?Quando criança ouvi que quando tocamos num ninho, eles o abandonam, será?Poxa, não foi minha intenção, tomara que volte. Tenho saudades da Julia, queria que ela estivesse aqui, morando aqui do lado. Ela me faz tão bem...amigas gostosas, inteligentes, mães como a gente, doidas e santas, bruxas e anjas, tem que estar perto. Eu vou chegar lá. Ainda caso com ela, ou então serei sua vizinha, no mínimo. Eu gosto do seu jeito, amiga amada, do seu ritmo – sempre tão roots, mesmo sem fumar. Eu amo sua maturidade, seu ar de confiante, mesmo sem estar confiante. Amo seus gostos, sua força de levantar de manha e fazer um pão maravilhoso. Sua paciência exagerada com as meninas, que exagero bonito!Amo seu carinho, sua massagem, seu bolinho de chocolate. Tem muito de mim em você, muito de você em mim, só pode ser de outras vidas. Esse texto sem pé, sem cabeça e sem coerência – só coesão, foi só uma conversa sozinha com o papel, está tocando Redemption Songs, e eu me lembrando de você...

Catarina Flores
Enviado por Catarina Flores em 06/05/2016
Código do texto: T5627562
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