Sementes de amor e o Outono

Era manhã de um dia silencioso e uma pequena sementinha trazida pela brisa do mar veio chegando com jeito tímido e, levemente foi bailando e vagando por entre o bosque, até cair e se acomodar delicadamente no chão.

O solo estava firme, mas não a machucou.

Pela primeira vez ela deixou de ver tudo lá do alto dos galhos e olhava agora do chão, admirando como eram frondosas as outras árvores.

Com suavidade foi se acomodando, aprofundando suas raízes que ainda frágeis procuravam apoio .

O calor do verão a fortaleceu, trouxe-lhe vida e ela então brotou. Desbravou a terra e ainda tímida, se mostrou.

Foram dias...anos...que chegaram e se foram com as estações.

Ela se tornou uma linda árvore e, em cada estação sua beleza resplandecia com o que a vida cuidadosamente teceu ,embelezando seus galhos com flores que a destacava das demais.

As estações são o encantamento da vida.

Há dias que se resplandecem em cores e cheiros, exalando aromas suaves no ar; em outros, aquecem os sonhos que estavam apertados no peito trazendo dias inquietantes, noites ardentes e sensuais.

Tem também os dias de outono, época dourada onde a quietude e a sabedoria se fazem. É a pausa para repensar, o momento pianíssimo de recriar o que o coração guardou, hora de deixar o medo de viver e assumir o controle , confiar nos anseios da alma, pois a vida passa a galope e os dias de inverno estão por vir... e chegam sem dó.

Nesses dias o frio é intenso que nos faz diminuir em nós mesmos, encolher as ambições, reviver as lembranças e desejar o calor do amor que nos aqueceu na primeira estação. Mas, onde ele está? Em qual das estações eu o perdi?

Ela percebe então que já é outono.

Seus galhos estão suspensos, arqueados, mas ainda atraem pássaros que cantam e elogiam seus encantos. Aos poucos, suas folhas se desprendem e caem formando um leito de cores vivas no chão em tons avermelhado e marrom dourado.

De súbito o vento chega.

Aquele mesmo vento que a trouxera tempos atrás. De inicio, como brisa delicada que acaricia , revirando as folhas mortas como agradecendo seu existir; depois, num sopro forte, leva suas sementes para longe... e com uma dor de saudade tudo vai se afastando, sem olhar para trás. Tudo irá recomeçar. A vida continua.