____________A Hora da Sopa
E por que as sopas? Por que esse prato, um dos mais antigos, um dos mais universais, e sem dúvida, o mais tradicional, vem com uma dose deliciosamente exagerada de cotidiano, de toque doméstico... E principalmente porque o tempo esfriou.
As sopas trazem algo de família, algo de sagrado. Misturam emoções, momentos que não se compram por dinheiro nenhum, mas que agregados por folhas, tubérculos, carnes, cereais e caldos fumegantes, dizem de coisas que outras coisas não diriam. Espalham-se em pratos sobre a mesa, tingem de calor olhares quentes de gente que se entreolha em aspirais de fumaça, que matam fome e hidratam corações no melhor do aquecimento humano.
Sopas chiques, requintadas, que servem de entrada a pratos sofisticados. Sopas elegantes e geladas que abrem o apetite ao prato principal. Não são destas que falo, mas daquela que borbulhava no caldeirão sobre as trempes do fogão a lenha, numa cozinha aquecida de conversas, risos e brincadeiras de irmãos. Sopa com sabores de mãe e gosto de infância.
Sopas da terra, das batatas dos canteiros de meu pai. Mandioquinhas lavadas, doces e tenras, folhas colhidas nas hortas de quintais orgânicos, tratados ao capricho de mãos cuidadosas, regas abundantes escorridas de olhos zelosos a cada praga que ousasse maculá-las.
A sopa era momento de paz e ventura que antecedia outro momento: o de enrolar-se no quarto, tomado de cochichos e risos sufocados, sob colchas de lã tecidas nos teares da minha avó, tudo para afugentar o rigor do inverno que se espalhava pelos pastos em tênues e gélidas neblinas. Lá fora, maio sibilava em ventos e geadas a branquear o que os olhos não viam, mas fazia o coração se confranger num aperto que não se sabia.
A hora da sopa marcou, gravou lembranças, fez da memória um recôndito de fuga. Tempo que passou, mas não levou impressões de outros invernos. O pensamento é coisa que não se vai, mesmo quando se pede que não volte. Mas como dissipá-lo se os invernos o recrudescem em partes que doem, em recordações que teimam?
Como espantar memórias, se a hora da sopa não deixa de trazê-las tão lúcidas e vívidas como se ainda fosse ontem?
E por que as sopas? Por que esse prato, um dos mais antigos, um dos mais universais, e sem dúvida, o mais tradicional, vem com uma dose deliciosamente exagerada de cotidiano, de toque doméstico... E principalmente porque o tempo esfriou.
As sopas trazem algo de família, algo de sagrado. Misturam emoções, momentos que não se compram por dinheiro nenhum, mas que agregados por folhas, tubérculos, carnes, cereais e caldos fumegantes, dizem de coisas que outras coisas não diriam. Espalham-se em pratos sobre a mesa, tingem de calor olhares quentes de gente que se entreolha em aspirais de fumaça, que matam fome e hidratam corações no melhor do aquecimento humano.
Sopas chiques, requintadas, que servem de entrada a pratos sofisticados. Sopas elegantes e geladas que abrem o apetite ao prato principal. Não são destas que falo, mas daquela que borbulhava no caldeirão sobre as trempes do fogão a lenha, numa cozinha aquecida de conversas, risos e brincadeiras de irmãos. Sopa com sabores de mãe e gosto de infância.
Sopas da terra, das batatas dos canteiros de meu pai. Mandioquinhas lavadas, doces e tenras, folhas colhidas nas hortas de quintais orgânicos, tratados ao capricho de mãos cuidadosas, regas abundantes escorridas de olhos zelosos a cada praga que ousasse maculá-las.
A sopa era momento de paz e ventura que antecedia outro momento: o de enrolar-se no quarto, tomado de cochichos e risos sufocados, sob colchas de lã tecidas nos teares da minha avó, tudo para afugentar o rigor do inverno que se espalhava pelos pastos em tênues e gélidas neblinas. Lá fora, maio sibilava em ventos e geadas a branquear o que os olhos não viam, mas fazia o coração se confranger num aperto que não se sabia.
A hora da sopa marcou, gravou lembranças, fez da memória um recôndito de fuga. Tempo que passou, mas não levou impressões de outros invernos. O pensamento é coisa que não se vai, mesmo quando se pede que não volte. Mas como dissipá-lo se os invernos o recrudescem em partes que doem, em recordações que teimam?
Como espantar memórias, se a hora da sopa não deixa de trazê-las tão lúcidas e vívidas como se ainda fosse ontem?