a carta
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abeirou-se do portão com o amor nas mãos.
as cortinas do quarto dele ainda dormiam.
era cedo. por galhos de acácia em flor o melro afinava o bico.
na outra calçada um cão mirava-a, como se a quisesse por dona.
ela, cor de flamingo, pairava em indecisão. nas veias corria-lhe um sangue ora quente, ora frio.
veio o alvor lavrar as sombras com charrua doirada. as últimas brumas esvaíram-se pelos fundos da rua. era Inverno, era
mas o ar, rebelde; o ar, casamenteiro; o ar, embevecido..
já traficava essências de Primavera.
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