**TUDO AZUL**
O azul sempre foi a minha cor predileta, desde menina , desde bem pequenina
Lembro-me bem que , olhava pro céu e imaginava além das muitas águas azuis clarinhas , uma grande piscina , que quando não mais se sustinha, caía em águas de "chuva do céu!". Não era qualquer água! Ela tinha cor, era ela que dava a cor azul do céu e , que depois caía , como gotas azuis lá de cima...E, quando eu ouvia ruido , vindo também lá de cima e era de avião a voar bem alto e só a surtir o ruído da máquina ao longe , sem se ver a mais nada , eu dizia: " É o barulho do tempo passando!"...A minha imaginação era demais pro meu irmão , que ria, e disparava : " Que barulho de tempo o quê! Isto é avião, "naceli"!"... ( Tenho nome próprio grande e um irmão preguiçoso, que acabou me reduzinho a um chamado mais curto.)...Mas , eu preferiria a idéia do tempo passando , a deixar seu rastro de passagem sonoro ao caminho como uma tênue vereda azul pastel ; sinal que me abarcava com aura de mistério , de segredo e sagrado bem guardados , que só a mim se intuía, ou talvez , a mais alguns outros poucos seletos, com a mesma "iluminação celúrica" que eu! E se por acaso, sabia ser avião, mas não o definia por estar bem alto no céu e eu , muito pequena na terra , ainda fora do alcance da plena visão, eu afirmava ser ele azul também, da cor do céu e motivo do seu desaparecimento naquele universo anilado . Estaria ele mesclado às águas azuis celestes , quem sabe a nadá-las, ao invés de voá-las!
Se era necessário roupa, algum vestuário, chinelinhos de dedo, seriam sempre os azuis. Minha mãe preferiria os róseos, os tons de menina, mas para mim nem pensar!
O bambolê, a corda de pular, as primeiras sapatilhas de pontas, indistintamente azuis! Estas últimas, na verdade , brancas em puro cetim prateado , que por refração do colan azul anil tornavam-se branco-azuladas em minha imaginação, elencada por tantas idéias inventadas de azul criança .
No carnaval, encantada pelo espetáculo das muitas cores em confetes , fantasias e serpentinas , tudo a dançar ao som das pitorescas marchinhas ; lá estava eu, entre todas elas, com a minha bailarina aérea, repleta de filós, paetês e pedrarias em tons azulinhos. Assim também foi com a "ave do paraíso", em tons composès de azul, bem temperados , pelo belo " maiô " fartamente cravejado com elementos festivos e fervilhantes em azul rei, que me deslumbrariam e me levariam como ave, a bailar entre as muitas canções carnavalescas , como a voar num céu azul neon!
E assim , sempre foi comigo: Verdadeira obsessão de cor, que me acompanharia até em sonhos , até com as andorinhas de porcelana azul cobalto , que mamãe havia posto em vôo na parede. Vía-me planando junto à elas em sonhos ao firmamento, ao azul purpurinho, lá bem alto no horizonte azul profundo. E talvez , seja daí, a minha extremada inteireza no azul das telas a óleo que pinto. O meu pincel tão fixado às cores e aos elementos do céu!
Bem marcados ficaram na minha memória, os versinhos brancos, que compus para o dia das mães e que tanta comoção causaram na professora devido à minha tenra idade. Elaborei junto a eles, como para decorá -los, uma grande flor intensamente azul , que inventei para homenagear minha mãe, seria só dela e única no mundo , medida exata do meu amor traduzida em tons azuis de céu Divino ...
Era uma flor que eu apreendera com certeza em sonhos e que se definiria bem grande , um híbrido de papoula e tulipa, marcada por gradientes azuis , na justa proporção do meu amor por ela e, sobretudo , por minha mãe e Deus!
Refletia todos os meus frementes anseios pelas alturas, pelo azul ultramar do oceano próximo e pelos vastos campos de lavanda. azuis-lilases da pródiga Inglaterra; que um dia pude feliz contemplar por foto. Uma imagem cor de sonho tão vivaz, que ainda hoje posso descrever com infuso bem estar , um mar de serenidade , uma alegria envolvente, um mergulho absoluto no grande mar , no grande céu de Deus , unido às duas grandes cores básicas para a humanidade : O verde e o azul. O azul da abóbada celeste , dos grandes oceanos e dos ventos , vistos fora da terra , do espaço infindo, do zênite ao nadir; por onde passa Deus, mantenedor de sua obra . ..gestor dos mais sublimes tons anis e ledos, as cores do firmamento , que se firmam e se fixam por sobre e ao entorno do mundo e à todas as coisas criadas !
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"Em homenagem à minha cadelinha Amy, a minha amiguinha de tantos anos, que posta está agora a descansar lá no mar azul do céu; com sua alminha leve e pura , pousada n'alguma nuvenzinha branca, laguna etérea, batizada em laivos azuis cintilantes e sacros, pelo grande "sol" de Deus!"
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