AS Tanajuras
Lembro-me que quando morei na casa da ladeira da gruta ,sentia-me uma desbravadora. Havia muitas plantas, árvores, frutas e fruteiras, espaço, um pequeno abismo e uma barreira. Sentia-me livre e uma verdadeira desbravadora, havia muitas pedrinhas arredondadas, buracos feitos na barreira por pequenos animais, eu achava ovos de lagartixas e de cobras, havia borboletas e muitos pássaros. Eu podia correr e brincar de conversar com gente imaginaria e de me esconder pelas plantas e folhagens. muitas vezes quando chovia e fazia sol voava de buracos dispersos formigas de asas, grandes e pequenas que voavam e caiam. As vezes eu via a criançada na ladeira pular , gritar , correr e cantar para que as tanajuras caíssem ao seu alcance e assim pudessem ser colocadas em um saco ou vasilha. muitas gritavam: "caí, caí tanajura que tua mãe esta na gordura". E um dia eu soube que se pegava as formigas para comer. Fiquei curiosa e esperava experimentar, mas eu conhecia muito bem minha mãe e o que ela pensava a respeito de comer formigas.
Então um dia apareceu a oportunidade, chegou Zito, Carlinhos e Silula com muita tanajura em uma vasilha e me pediram passar assar. Minha mãe trabalhando, meu pai trabalhando. A empregada não iria se importar. Eles lavaram, tiraram as asas, arrancaram a cabeça e fritaram na manteiga, o cheiro incensava toda a casa, colocaram a farinha, dividiram para todos, e foram embora quando ouviram a chegada de minha mãe. Acho que ela sentiu o cheiro de longe. Nem pude experimentar de verdade pois no primeiro bocado que coloquei na boca o prato pulou da minha mão, e só me lembro de minha mãe segurando minha orelha e me levando para o banheiro onde me fez lavar a boca. enquanto ela me conduzia para o banheiro aos solavancos e falando muito ainda pude sentir o sabor de uma única e deliciosa formiga. E me lembrei que Zito disse que se fizesse na manteiga por isso ficava mais gostoso.