Outono

Outono. E o vento em rodopio, retira as vestes das árvores, murmuram as folhas em desassossego, beijam-se por entre os becos do amor, gargalham o céu das bocas em delírio, despem-se as palavras a amar pelos cantos, sensuais e sedentas palavras aninham-se e explodem sexo sem recusa. Outono! Despem-se as flores no outono sem trégua a escorrer pela pele, sangra o suor entranhado no peito a sussurrar o verbo abrir-se, mordem-se lábios como doces frutas agridoces e viris, na consistência íntima do dar e receber, desfolha-se outono de ventos e nudez do ser, folhas que se vão e escancaram-se em jestos de súbito carinho sem paciência. Nada a roubar, nada que falte, nada que se detenha no caminho por onde se jogam em coito as sementes da primavera e as árvores pouco a pouco vistam-se de sutilezas e desejos, por baixo de comportadas vestes matinais.