[Abismo de silêncios]
Que há uma realidade externa comum a nós dois, não há dúvida!
Basta lembrar a nossa perda, isto é, a realidade da nossa perda!
Sobre essa perda, fecha-se a janela dos mútuos sentimentos,
não há uma compreensão comum, mas há sim,
um abismo de silêncios: a nossa fala afetuosa, antes tão intensa, calou-se...
Agora, cada um, em sua caminhada solitária,
leva dentro de si a presença imarcescível do outro.
Uma presença que se aviva em alguns devaneios diurnos,
ou em sonhos que a noite [nos] traz.
Punição? Quem saberia dizer?
Simples constatação: por sorte, a vida é muito breve.
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[Lamento no Desterro, 19 de março de 2016]