Cachoeiras Noturnas
Desde da última tempestade todas as noites aquela mulher chora. Ela deita em sua cama, mesmo que não durma, e chora por muito tempo, quase por horas. Um choro em silêncio, choro desesperado. Sem lábios trêmulos, soluços, ou respiração descompassada. Somente lágrimas. Ela apenas se mantém a olhar para o teto e a dor vêm, as lembranças, o vazio, as falhas, mãos atadas... As lágrimas apenas escorrem pelas laterais do seu rosto fino, incontrolavelmente. Um pouco daquele ser se esvai com as lágrimas... Ela reluta tenta contê-las fechando os olhos, mas é falho. As lágrimas superam as pálpebras. O rolar das águas é impetuoso, causam dor, e os olhos se abrem vencidos... Tenta imaginar coisas boas. Ela sempre foi possuidora de uma imaginação fértil. Aquela criatura curiosamente confusa, fazia uso da ilusão, criava histórias felizes, que contava para si antes dormir: ela tentava incutir esperança para o próximo amanhecer. Porém isso não funcionava mais... Seu método somente adiou o inevitável: agora ela chora pelo que não chorou antes, pelo que foi, pelo que não será, e pela incompreensão de sua própria confusão... Ela continua a transbordar, não sei se é até que ela se esvazie por completo, para tentar se preencher de novo... Ela terá força pra tal empreitada? Não sei. Até a descoberta, ela segue em sua saga: vivendo o dia e derramando a noite: sempre algo há de ficar...