Delírio
Por que sorrir?
Se o pranto virá impetuoso
Ante o trágico imutável
Por que cantar?
Se a voz será embargada
Pelo soluçar incontrolável
Por que abrir os olhos?
Se o que se vê é desolador
E o horizonte se fecha cruel
Por que edificar?
Se não ficará pedra sobre pedra
Por que lamentar?
Se nada disso vai mudar
É preciso seguir e caminhar
Por que desistir e parar?
Se a desolação e o terror
Não deixam lugar para descansar
Por que alimentar lembranças?
Quando o desespero é real
E já não há mais esperança
Para que a poesia?
Se tudo o que penso ou faço
Não traz de volta seu abraço.