A LESMA POÉTICA

É verdade, sim, sou uma lesma sobre a qual jogaram sal à vontade. E ao arrastar-se sobre o papel, o itinerário se vai marcando, torto e úmido. Segue sua sina, contorcendo-se de dor. A gosma pincela também algumas garatujas, formando inesgotáveis trajetórias. São os labores do estertor: teimosia de ainda querer viver, mesmo morrendo liquefeito. Estes rabiscos podem não ser poemas com poesia, todavia são tão densamente humanos que até parecem satíricos. Enfim, o humor imanente ao estar vivo. O fim do carretel entre o riso e a dor.

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/16.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5597895