Vida corrompida
Olho para o céu e vejo as estrelas brilhar... Olho para o céu, vejo o sol a iluminar e a lua também a aclarar, nas noites de luar então, recende com mais ardor. É tudo tão simples e tão complexo, tão pequeno e tão grande. Olho para a terra e vejo a humanidade tão sedenta e faminta de coisas vãs. É tudo tão corrido, sem sentido e sem brilho. A criança já não vive a sua infância, não descobre os mistérios de ser criança, logo cresce, logo se corrompe. O jovem, não vive a juventude, insiste em querer ser adulto, um adulto forjado, mascarado, imaturo e alienável diante da sociedade global. Os campos, em sua essência tão bucólicos e tão serenos, estão envolvidos e dominados pelos grilhões tecnológicos, e os camponeses já pouco enxergam da beleza do cantar do pássaro, da noite de luar, do céu estrelado e do raiar do dia. As crianças já não banham na chuva, não correm pelo campo, não colhem mais as frutas, não brincam nos quintais. As brincadeiras naturais foram substituídas pelos jogos dos celulares, dos tablets, dos computadores e de tantos outros aparelhos eletrônicos. Ah, pobre infância! Perdida, corrompida, forjada e negada! Os pais já não possuem tempo aos filhos, de se deitar e na rede se balançar. Os pais estão mais preocupados em um capital alcançar do que em uma vida criar. Não percebem que o capital, uma ideologia pregada, os aliena e os fazem perder uma vida inteira. Bravo, sociedade industrial! Bravo, mundo capitalista! O conhecimento, substituído por informações deturbadas e com vista a uma finalidade dificilmente benéfica para todos, é o que agora os dominam! Bravo, homens cegos e alienados! Estão aos poucos perdendo a maior capacidade do ser humano. Já não se inventam mais as brincadeiras, já não se caminha mais em noite de luar, já não se conversa sobre as constelações estrelares e sobre as histórias de um povo. Tudo foi substituído por algo que possui um valor fora de si. Já não se planta, mais ainda se quer colher. Não conseguem perceber que a colheita é daqueles que preparam a terra, plantam, cuidam e dão o sustento necessário. Olho para o céu e ainda vejo as estrelas, a lua e sol: eles ainda possuem o admirável brilho! Olho para o campo e ainda vejo as flores, a floresta, o caminho, o rio. Porém, os vejo em menor grau, estão morrendo, e a todo instante tentam nos avisar disso. Mas, quando olho para a humanidade, vejo que tapam os ouvidos para isso porque eles estão embebidos em vozes que os dominam: um consumo sem freio... um capital sem fim... uma riqueza sem tamanho.... Paro e pergunto-me: de que valerá a pena tanta riqueza, se não houver mundo, se não houver vida que os permita tempo e espaço para desfrutar? É!... talvez acreditem na infinidade de tudo o que há de natural, mas talvez essa infinidade possa ter espinhos demais para quem esteve acostumado a colher apenas as rosas. E talvez, a colheita desses espinhos já até tenham começado, e os frutos serão grandes demais para as mãos humanas, que regidas por frágeis intelectos, não darão conta de uma dura colheita que é fruto de tudo aquilo que foi, é e está sendo plantado por essa dessa dócil civilização, que pensa está remando na maré da liberdade infinita, mas na verdade, rema em uma maré que a levará a sua própria escravidão: obra das medíocres substituições de uma civilização sem luz.