Paisagens da Alma XXII
Ouço os carros transitando de lá para cá, um vento forte, que levanta as folhas secas na rua, sai mais a poeira anunciando no ar o cheiro de terra molhada, anunciado que vêm chuva lá do norte. Mas é fresco o vento que vai passando apressadamente pelo meu rosto. Sinto gratidão de viver. Lembro-me de Pessoa: Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Ouço a voz da noite e do movimento da vida nas vozes de pessoas e carros que passam intermitentes pela minha frente. Perco-me no cotidiano anoitecendo, na vida que vai e vêm. Nada sou, não sou ninguém.
Tomo consciência, ao olhar para o céu estrelado, do silêncio e do espaço que ampara a existência em equilíbrio, sustentando tudo em plena ordem, sem quaisquer mãos externas ou divinas que coordene tudo. Levanto-me sem saber porque nem como, sinto-me sonâmbulo - sonho?! Segue a vida me guiando os passos, vendo pelos os olhos - que não são meus - a rua de incerteza, o céu silencioso e o pulsar do coração...
Sigo com uma presença, será Eu? Sigo, mas com quem?
Será Deus?!
Que importa nomes...