A ÁRVORE TORTA

Na minha rua, em frente à minha casa, tinha uma árvore torta. Uma linda dama da noite, com flores brancas e perfumadas. Dama da noite porque suas flores exalam seus deliciosos perfumes somente à noite. Cresceu normalmente formosa e linda, produzindo sua sombra, enfeitando a rua, e um farfalhar das folhas pelos ventos, dava um frescor aos que passavam ou àqueles que estavam próximos a ela. Abrigava aves, de várias espécies e cores, com seus pipilares deliciosos aos nossos ouvidos. Ali construíram seus ninhos e criaram seus filhotes, escondidos em seus ramos, protegidos dos perigos. Com o passar do tempo e, talvez por uma deficiência de nutrientes do solo, ela começou a pender para o lado da rua, que se tornou um risco para os veículos que tentassem estacionar naquele local. Suas folhas não tinham mais o viço de uma árvore jovem. Então, foi preciso pedir à prefeitura para a sua retirada e o plantio de uma nova espécie. E nesse tempo de espera, observei demoradamente a árvore torta e verifique que ela tinha uma certa harmonia com sua tortuosidade, uma certa simetria em sua forma, que se tornava-se bonita. Continuava abrigando aves, insetos, e farfalhando suas folhas pelo vento.

Com os seres humanos acontece, também, a tortuosidade de conduta, um embotamento da consciência, quando se desvia da retidão e é preciso algum remédio, ou diligência disciplinar, para colocar tal pessoa no caminho certo, muitas vezes com ótimos resultados até que tal indivíduo recupere o seu desvio de conduta e conviva de novo com a sociedade.

Á árvore foi arrancada e plantada outra em seu lugar e que em breve tempo se tornará adulta, bela e encopada, para abrigar novamente, pássaros e insetos, produzindo belas e perfumadas flores, além de sua fresca sombra.

É o desígnio da existência, a substituição continuada da vida.

Miguel Toledo
Enviado por Miguel Toledo em 31/03/2016
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