ALÉM DAS PALAVRAS
"Mas estou tentando escrever-te com o corpo todo, enviando-te uma seta que finca no ponto tenro e nevrálgico da palavra". (Clarice Lispector)
ALÉM DAS PALAVRAS
Ao olhar-te pela primeira vez reconheci em ti o amor de todas as minhas incontáveis vidas.
Aproximei-me devagar, e toquei-te com o cuidado de quem tem nas mãos um coração. Delicado, vivo, pulsante, como o relicário sagrado, no qual eu guardava a própria vida.
Entreguei-me a ti com a intensidade que move a vida, e a delicadeza dos sentimentos leves.
Amei-te com a certeza cega de um samurai, e a pureza cabalística dos anjos. Com a força incondicional das minhas mais puras intenções, te prometi a eternidade do meu sublime amor.
Beijei-te num misto de delicadeza e fúria, como uma condenada que tem diante de si a última ceia.
Me adornei com flor de laranjeira, pra te receber dentro de mim, e entreguei-te meu corpo sensual de fêmea, com a luxúria de todas as luxúrias, o coração saltitando de alegria, e alma totalmente desnuda dos véus do falso moralismo, melindres e pudores supostamente concebidos nas entranhas do pecado.
Quando nossos corpos se encontraram, nossos corações se encaixaram, nossas almas se enlacaram e, eu te ofereci minha vida. Junto com ela entreguei-te a arma que poderia me destruir totalmente. No entanto, sem medo, como uma guerreira destemida que defende a vida com as mãos cheias de flores, e na boca o poderoso grito. Não um grito de guerra, mas o grito inaldível do bendito sentimento, o grito que torna toda guerreira do amor invencível, perante os olhos frios da razão.
(Edna Frigato)