E havia...
E havia luar e mar e solidão, ó humano !
A poesia ficou no chão.
Desfaço-me dessa pureza leviana, dessa calma inventada. Não fujo: sou sentimental por natureza, ergo as mãos para o céu, danço e incito, leve. Na sucessão de sons de que resulta um canto regular e agradável, pelo avesso me solto pro ar, lanço todas as flores e retratos que sinto tocar, estou viva. Sacio-me de verdades inventadas por prazer, ora desmembradas pela noção inquietante de ser alguém: sinto. Sou perdida, sabes, sabes. Sem estado, inconstante, profana, anônima: deixo-me ir, não devo a ilusão... Revelo-te que na última aurora perdi minha mais altiva e difícil alegria, mas não lamento: permaneço escondida na força desmedida das horas, que me atira rosto a fora tudo que não quero saber, nem ver. Solto o medo covarde que te habita, de vez. Ouso: levo coragem e anseio a extensão do tempo. Ser eu sem condições, até me esquecer... e me topar ?
Recife, 04/06/07.