Escolhi teus braços

Escolhi teus braços, tu é que não me recostastes em teu peito, nem me tirastes a solidão das velhas naus que não conseguiram ancorar no porto seguro. Escolhi teus braços, dei-te sonhos e não formastes sequer uma palavra que não me trouxesse o vazio das grutas escuras, repletas de ecos sem resposta. Escolhi teus braços para dormir como rio de poemas e me destes o silêncio da noite funda e um ventre rasgado ao solo, presenteastes-me com o abandono dos que não tem saída e com o chão da terra que não ousastes pisar para levantar voo. Escolhi teus braços como abrigo de um amor que não presumistes, escolhi ser mar em teu leito e tu, cego do sentir, te fechastes no casulo do tempo sem palavra. Mas há no sussurro do vento um prenúncio de mãos habitadas e braços que buscam saciar espaços onde a terra estremece e os gritos silenciosos podem ser escutados. Há que se fechar os olhos e ouvir. É pelo silêncio dos olhos que os gritos podem ser escutados. E é pelo som das palavras que se escutam os silêncios.