Paisagens da Alma XVII
Sol de meio-dia, está quente e escrevo embaixo de um pequeno pé de manga, dois ou três pés de banana descansam sob a sombra de outro pé de manga, pende como se das folhas um cachinho de bananas, silencioso, dormindo na inconsciência fresca de simplesmente existir sem saber. Vejo-me diante do mundo incerto, sempre por construir, e enquanto penso sobre aleatoriedades filosóficas, um silêncio sagrado se mostra no movimento dos pássaros, nas folhas das árvores, na terra úmida com nostalgia de chuva. Escuto os estalidos de garfo no prato que um grande amigo, que não vejo porque escrevo, cria ao despejar o que suponho ser comida para o cão moribundo - e na demora de escolher a melhor forma de me expressar, perco a cena a que escrevo. Levanto a cabeça e vejo-o, o cão, já terminando sua refeição com gratidão, que interpreto pelas lambidas dadas no chão sujo de concreto, com restos de comida seca pelo sol, sombras do mesmo movimento dia a pós dias...