A TRANÇA

Sentada em sua poltrona predileta, ela não tricota, nem faz crochê. Laptop ao colo, ela espia o mundo. Pelo WhatsApp, ela mantém comunicação com grupos de amigos e familiares.
Não, ela, não é jovem, pertence a turma da terceira idade, que na verdade é um nome enfeitado pra identificar quem está ficando (ou já está) velho.

Não, ela, não tem a cabeça nevada, colorações de última geração, dão um jeito nisso, os cabelos, não estão presos em um coque atrás da cabeça, tem um corte moderno. Veste jeans, camiseta e confortáveis tênis nos pés.
Ela é boa motorista, gosta de dirigir, e não depende de ninguém para ir e vir.
O tempo acentuou nela um perfil de ideias firmes, de ideal sonhador, de posicionamento claro.
Tem autonomia econômica, resultado de uma vida inteira de labuta exercida com dignidade e gosto, é livre para se expressar diante dos fatos do mundo.

Entre a avó querida que ela conheceu em sua meninice, e a que seus netos estão tendo a oportunidade de conhecer, há uma mudança radical no visual, nas posturas diante da vida. Porém, há um fio invisível e sensível, ligando-as de maneira incondicional. Esse fio é composto pela dedicação, generosidade e amor. Esses três sentimentos misturam-se, e tecem uma preciosa trança, cujo valor e  beleza torna semelhante (não igual) toda mulher que tem o privilégio de se tornar avó.



(Imagem: Lenapena)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 20/03/2016
Reeditado em 20/03/2016
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