Nós, homens do futuro
Nós, homens do futuro
pensamos o ontem
como água no rio
Navegamos nele sem remos
para, nesse esforço,
chegarmos à outra margem.
Nós, homens do futuro
sonhamos o sonho das crianças
brincamos com Deus e jogamos dados
Nossos gritos se dissipam
no quarto escuro da vida
Tateamos por paredes ocas
e chegamos no infinito
O encontro nos assombra
Somos crianças em busca do pai
Pai ausente porque pai
Pai é só genitor
que oprime o filho
sem querer saber se faz chorar
Pai tem projeto para o filho
e isso basta para todo o sempre
Pai ou Deus
ambos bufões
de um mundo inexistente;
um mundo decadente.
Celeres bufões beberrões
numa adega sem vinho
e se embriagam com vento.
Ei, crianças, não larguem seus brinquedos;
joguem dados. Deus está num soldadinho de chumbo.
Bobos da corte num mundo cinza,
num mundo que se desmorona
e espalha tijolos e lama.
Nós, homens do futuro
não rompemos nosso planos
Mantemos a manada e o circo
Alimentemos os desejos
e castremos o gozo.
Nós, homens do futuro
fundemos nosso reino
de ovelhas e servil manada
para gritar por nós em procissão.
Nós, homens do futuro
alimentemos o ódio, a dor e a fome
e vencemos o trovão da mudança.
Nós, homens do futuro
plantemos a ignorância
e governaremos o mundo.
Eis meus amigos
Eis que denuncio o por vir
Eis que os dados estão postos
Eis criança o brinquedo
Eis o tempo livre, brinque
e seja feliz