Quem (não) se Ajuda
Nunca pensei que te veria novamente
E também não estava com a menor saudade
Achei que tivesse enterrado esse fantasma
Mas devia ter previsto que voltaria para assombrar
Com esses olhos sutis carregados de manipulação
Tentando levar as pessoas que amo
Pelo mesmo caminho tortuoso que já sei evitar
Já me importei muito contigo
Porque eu era ingênua
E porque mesmo pessoas fortes precisam de amigos de vez em quando
Me aproximei de ti porque teus olhos carregavam tanta tristeza
Que eu decidi que ajudaria a dissipar
Foste uma boa amiga, a melhor amiga
Tão boa que eu devia ter visto logo a ilusão
Teria movido o Universo para ajudá-la
Porque é isso que amizade significa no meu dicionário
Mas preferiste fingir que não precisavas de ajuda
Para sugar de mim os poucos sorrisos que ainda tinha
Como se isso fosse ajudar alguém
Preferiste me confundir com argumentos que nem tu compreendias
Porque ficava um pouco mais fácil ocultar tua insegurança
Preferiste agir como vítima mendigando bajulações
Ao invés de erguer a cabeça e fazer por merecer os elogios
Eu aprendi a manter distância
Mas tu pareces ainda sujar os dedos nos mesmos erros
Eu teria te ajudado
Se ao menos soubesses aceitar ajuda
Não era tão difícil, acreditar em si mesma
Ao invés de espalhar lágrimas de crocodilo no chão
Não era tão difícil, agir como um ser humano decente
Quando todos só queriam o teu bem
E não era tão difícil falar a verdade
Ao invés de ensaiar draminhas incoerentes
Que felizmente ninguém queria mesmo escutar
Eu teria abraçado o mundo pra te salvar
Mas agora só ajudo quem quer se ajudar