Imóveis, continuamos a passar...


        Pudera, ao menos, cristalizar este tempo, em que ainda se sobrevive, pelo menos... eu e ela, no terrível silêncio que nos coube e cabe... mas, nem isso... Os ventos levam embora tudo... levarão também este tempo... também este... também este...
        Eu nos ouço  à distância e eis tudo... eis tudo... Existir, ainda, enquanto se exista... o possível de se existir... Quisera ainda poder ficar um pouco mais perto de mim... Um pouco mais... Bem o quisera, um pouco mais dos gostos... dos cheiros... tocar  ainda, fundo, por pouco tempo que fosse, a pele de existir...
         Ah, os ventos... Os ventos... Os ventos... E ninguém nos sabe, de verdade, a nenhum de nós... A nenhum... de nós... Nem nós...
         Imóveis, continuamos a passar...