NINGUÉM

- Quem é?

- Ninguém.

- Como assim ninguém?

- Por enquanto ninguém.

- Mas eu ouço tua voz.

- Vai ouvindo que...

- Não abro enquanto não me disseres quem és.

- Então continuo sendo ninguém.

- Está brincando comigo... Agora é que não abro mesmo!

- Bom, então adeus!

Esperou um pouco e, curioso, abriu a porta. Não vendo nada, saiu...

- Quem está aí?

E o silêncio anunciou o nada. Ninguém estava ali. Mas uma rajada de vento, que é o sopro do vazio em movimento, fechou a porta e o prendeu para o lado de fora. Então, desesperado, o homem anunciou o óbvio:

- Droga, fiquei trancado. Agora ninguém mais pode entrar!

E as vozes gritaram até a noite cansá-las e escurecer tudo em mais silêncios. Assim, quietinha, nenhuma alma pode mais habitar à casa. Ninguém pôde entrar. Pelo menos não naquela noite assombrada por tantos "ninguéns".

Dilso Santos
Enviado por Dilso Santos em 04/03/2016
Código do texto: T5563245
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