Morte

O coveiro olhava-me, sorridente

O sol quente fazia o suor escorrer pela sua face escura

De seu pescoço pendia um crucifixo, onde cristo jazia

Lentamente abria caminho ao corpo malsão há muito esquecido embaixo da terra

Ansiava por vê-lo

Para quê? Para a vida...

Baratas percorriam o caixão de fora a fora

E quando o coveiro, sorrindo, retirou a porta fictícia da morte

Deus... o que restava? Ossos, serragem, podridão e caos de vermes e baratas

Os olhos negros ocultavam o segredo da morte

Perguntava-me por onde estava aquele ser que um dia comigo tanto filosofou sobre o instante derradeiro em que ele mesmo agora se encontrava

Sorriu-me outra vez o coveiro, como quem soubesse o que estava pensando, e encarando os ossos disperso pelo caixão

disse: vosso amigo jaz onde sempre esteve. E silenciou-se...

Nada mais disse, deixando-me num profundo devaneio triste

As lembranças me inundavam, e inevitavelmente os pensamentos se inquietavam porque não compreendiam o mistério da vida

Derramei lágrimas, resistia...

Um a um o coveiro foi retirando os ossos e juntando num saco

Que somos? Que coisa é essa que meus olhos encaram assombrados?

Quem estivera sempre ao meu lado agora jazia dentro de um saco plástico. Como pode? Como?

Aqui é onde tudo acaba

Onde todos os vossos pensamentos se evaporaram no limbo

Todos os vossos temores e esperanças se foram

Acabou!

E todo vossa vida, amigo, por mais inteligente que fosse

Não foi mais que um mero sonho

sonhado por vossos próprios pensamentos

Que tragicamente o matou

Descanse na paz que não há, que não pode sentir

Pois a paz que tanto procurava esteve onde sempre negou

Para que conhecestes a paz tu fostes bater à porta da morte, caminhando moribundo, provavelmente carregando uma luz de esperança

Amigo, hoje ainda perturbado pelos mesmos pensamentos

que reconheço que não sou eu, mas estão em mim, entendo que é melhor conhecer a paz consciente para se morrer - consciente

e assim desfrutar do silêncio derradeiro que sempre preencheu tudo e todos...

Aqui e Agora!

Descanse em paz na eternidade do silêncio...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 26/02/2016
Reeditado em 26/02/2016
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