pelo menos hoje

 
Hoje eu queria falar dos pássaros em voos livres, como telas no espaço. Queria contemplar a menina com flores nos cabelos, sorrindo para borboletas multicoloridas, no jardim. Meninos num corre-corre desenfreado pela casa, derrubando objetos e mães pacientes, pedindo-lhes calma. Hoje eu queria admirar Antonia nas ruas de Niterói, em feiras, conversando com feirantes e ao retornar, contar com leveza, como transcorreu seu dia. Queria pegar um barco e me perder nas profundezas do mar, com um escafandro, visionário em busca de tesouros naufragados. Queria ouvir canções de amor, juras, promessas. Adentrar-me pela floresta amazônica e ir de encontro aos povos originários, aprender com eles como viver em harmonia com a natureza. Ver Lourdes Maria ensolarada; ternura nos olhos das pessoas; gestos fraternos; amantes de mãos dadas, beijando-se, reconciliados. Nuvens em movimento; cata-vento para orientar a melhor direção. Hoje eu queria ver os animais, esses seres frágeis, tratados com respeito. Queria ver os líderes políticos mundiais chegarem ao consenso de que a guerra, além de desnecessária, está destruindo a Terra. Pelo menos hoje ouvir a lucidez de Jorge, para tranquilizar esse espírito inquieto. Hoje queria ouvir as historias de Regina, debaixo de uma seringueira, que Chico Mendes tanto defendeu.  Queria, ah como queria um banho de cachoeira, que purificasse esse corpo impregnado de som e fúria. Hoje eu queria o abraço de Leni, Dora, Doralice...
     Pelo menos hoje, que me encontro tão só, tão triste.
 
 


Esta crônica, ou prosa, como queiram, poética está em meu livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros - 2012 - Editora Protexto - Pode ser encontrado na Estante Virtual.

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