TRIBUTO AOS GATOS (Texto do meu livro: A menina da fazenda)
Certa vez afeiçoei-me a uma gatinha bonita, de três cores,criada na fazenda entre muitos gatos, indispensáveis armas contra os ratos da despensa e do paiol. Ela fitava-me com seus olhos lânguidos, de uma ternura comovente, sonolentos de um sono atrasado pelas farras noturnas.Fruto destas farras produziu três gatinhos e dava-lhes de mamar com amor maternal,envolvendo-os nas patas como se elas fossem braços maternos..Os gatinhos mamavam com a boca, com as patas e garras numa gulodice, numa sofreguidão, numa exigência que só o amor materno pode suportar.Vendo aquela fome,aquela sede e aquele desprendimento materno, um dia não resisti:deitei-me no chão perto da gata, arranquei à força os filhotes que lutavam com unhas e dentes contra a usurpação.Colei a boca naqueles peitinhos rosados, úmidos de leite. A gata não se importou com a substituição, de barriga para cima sotou o leitinho morno, doce, gota a gota para meu gosto l´lúdico.
Sem que ninguém soubesse dividi várias vezes com os gatinhos a mamada diária.
Este alimento inusitado deu-me o gosto pelos telhados de luar, as noites de fuga com meus amigos de folia, cantando e dançando tangos para uma platéia de bêbados inofensivos,artistas sem nome e mulheres à procura do amor.
Amei gatos e gatas com paixão!...
Quem nunca amou um gato não conhece o prazer do carinho felino, um beijo de língua áspero, quase sensual lambendo-nos o rosto, a boca, os braços e as mãos, a lascívia enroscada em nossas pernas, dormindo em nosso colo.
E os olhos? Que brilho, que sedução e que ternura!...
Foi com os gatos que aprendi a delícia do carinho, o cicio das palavras doces, a entrega do sono, do aconchego.
Gatos e gatas da minha vida, deram-me leite, carícias, olhos lânguidos ou brilhantes, vazando-me a alma como lâminas, e hoje essa preguiça gostosa que me faz dormir enroscada na lembrança de chiados como doce atordoamento.