CANA CAIANA (Texto do meu livro: A menina da fazenda)
Nossos dentes de criança lascavam em dentadas ávidas os gomos de cana triturados até o bagaço . O Caldo escorrendo pelo queixo, pelas mãos, pelos cotovelos. A garapa, o melado fervendo nos tachos, a rapadura que meus primos faziam para vender na vendinha do povoado.Junto o assucar preto em torrões, cheiro forte, fermentado, assucar mascavo mais suave e assucar cristal para adoçar café´e, fazer quitanda e os doces da fazenda. Doces que até o palhaço do circo apregoava em cambalhotas e piruetas, anunciando para as crianças dulcíssimas alegrias:
-Hoje tem goiabada? Tem sim senhor...
-Hoje tem marmelada? Tem sim senhor...
Cana caiana, rapariga de saliva doce,corpo enroscado ao vento,amadurecido ao calor do sol, casca e fibra na textura forte que as lâminas retalham.
Cana caiana,mulher ardilosa, embriagadora, de saliva doce, caminhando no passo e descompasso dos embriagados, ébrios de amor, de desespero, de loucura ou simplesmente o gosto irresistível de beber,
Ah!cana cainana, quem me dera ainda triturar teus gomos com aqueles dentes fortes de criança, fortes como como os dentes do arado.
- Ô arado!...Ô boi...Ô homem! que aravam com a paciência do tempo as terras férteis da fazenda do meu pai...