Pensamentos XXIII - Coração

Oh! Vida, que sei eu de ti? Que sei eu de mim? Sou tão obscuro quanto o próprio desconhecimento. Meu coração silencioso guia-me os passos lentos pelo caminho doloroso, cheio de espinhos de rosas idealizadas, falsas interpretações ansiosas.

Caio, levanto. Caio de novo. Por onde me guia? Sinto-me cansado, ou finjo que sinto, não sei... A mente se dilata e faz parecer que a estrada é longa demais, causando vertigem, alucinações que antecipam de antemão tormentos futuros que podem acontecer. Esta estrada não te leva a lugar nenhum, diz o coração, segue-a mesmo assim. Tudo é caminho.

Tenho uma alma condicionado pelo drama, pela fatalidade, pelo caos. Uma alma romântica. Aceito se assim o for. Que posso eu fazer a respeito? Não escolhi ser quem penso ser. Se penso isso se dá livremente sem minha vontade. Se luto perpetuo uma guerra que sempre sou o perdedor, pois fortaleço em mim aquilo que luta, o que resisto permanece. Não sou nada no meio disso tudo então, sinto estar desaparecendo como a fumaça de um cigarro no ar.

Sinto medo. O coração caminha de olhos vendados porque não teme o desconhecido, vive-o como sendo o próprio mistério, que também sou eu, mas não sinto. Apenas sei. Uma boa prova de que o saber não é suficiente. A verdadeira sabedoria está além da mente. Por isso admito, eu tenho medo de viver. E este medo guia-me nas falsas relações com a vida. Então o pequenino eu, mergulhado no niilismo, ancora-se na falta de sentido de tudo e diz a si mesmo "nada vale a pena, tudo é vazio", assim sussurram os pensamentos em momentos que o intelecto já não consegue mais destrinchar a realidade. Segue o eu vivendo morto-vivo, revirando-se no sepulcro. Sente sua hora se aproximando. Que será de mim?

Minha pequenez e miserável condição é usada por mim mesmo, inconscientemente, como um espelho que reflete a inutilidade de tudo, assim penso eu, assim vê o "eu" refletido. Mas o que eu sei diante da pulsão do coração que fala comigo pelo silêncio? "Estás vivo!", assim entendo às vezes, e pesa-me o corpo na realidade como um esporão no presente da vida, machucando-a, ferindo a mim mesmo.

Mas há momentos em que me rendo ao seu silêncio, deixo cair todas as máscaras, solto todas as armas no chão, esgotado diante do monstro que é a vida acabo por senti-la inteiramente. E então nada mais importa, a guerra perde seu sentido e a vida ganha um novo sabor. Esvai-se o tempo, a mente já não procura mais nada, e vejo que o coração sempre bate em harmonia com o Todo.

Mesmo aos tropeços sigo caminhando, embriagado de pensamentos e sensações, pela estrada silenciosa do espírito. Chegarei a algum lugar?

Oh! eu, iludido, sempre perguntas, sabes que não saístes do lugar, que o movimento interior não é relativo a alguma coisa, ele simplesmente acontece e é percebido; mas tu, ego insaciável, pensastes que é o relativo ao movimento. E aí entras na ilusão que o coração silenciosamente diz que não é real, perdendo-se em si mesmo.

"Você jamais saístes do lugar para buscar a vida em ti mesmo, porque sou eu a vida em ti, e sempre estive aqui - te esperando...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 17/02/2016
Reeditado em 01/03/2016
Código do texto: T5546869
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