A DUNA E A ETERNIDADE

I

como pois atravessar juntos este rastro

de existir e não deixar rastro?

teus pés valentes investem sem medo

sob as pedras e a areia escaldante

teu longo vestido vermelho e dourado

esvoaça lento e livre junto a teus cabelos

há como vencer esta existência

que leva ao total esquecimento em dias?

és livre como um pássaro

forte águia caçadora no céu do ermo

predadora voraz nas selvas e nos mares

enquanto sou apenas uma duna que vai

ao sabor das areias para todos os lugares

há como estarmos juntos

no longo percurso de dúvida da vida?

sou carne e ossos

és espírito de liberdade

eu aqui preso à vida mortal

podes libertar-mepara que te acompanhe?

prometo seguir-te pois sem medo

toca-me o rosto com tua mão selvagem

faz-me mais que um pobre covarde

não sereis minha

antes cairei em teus braços em repouso

porém agora só o palpitar do sangue na veia

e a triste esperança que torna-se desespero

II

dirás aos quatro ventos da beleza da dançarina

que circula pela madrugada sob a lua?

falarás do véu que cobre seu rosto?

talvez perguntem sobre a cor dos olhos

castanhos como a madeira de ébano

azul turquesa como as praias mais ermas

perguntarão sobre os lábios vermelhos

os convites que povoam a mente dos homens

ah! ternas e loucas fantasias

de caçadores que viram a presa

antes não pronuncie palavra

apenas abra teu peito e diga-me

onde está teu verdadeiro sentimento?

derrotar a gazela que foge pela madrugada

sobrevive feroz e solitária na areia

estátua cruel e rígida qual mármore e basalto?

preferes saber a verdade ou um sonho?

ou desejas tomar a minha mão pelo horizonte?

chamas-me valente e poderosa amazona

dizem-me feiticeira devoradora de sangue

pedes-me a eternidade do apenas uma noite?

apenas conheça a realidade:

por trás da escultura o que há é uma mulher

Ronaldo Thomé
Enviado por Ronaldo Thomé em 15/02/2016
Código do texto: T5544240
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