ANTÍPODA

Outro dia

numa noite parecida com essa

fui conduzido dentro de um sonho

e nele uma serpente que perdera o veneno

me dizia a verdade e sorria triste

estendendo o seu olhar para o distante

como se mostrasse um real perigo.

Entre arbustos na escuridão sem cor

outro olhar nos espreitava silencioso.

Uma áspide venenosa armava bote.

Neguei o aviso da primeira cobra,

passei adiante e encarei a vastidão

- nada temia na órbitas ocas pestilentas.

Mas de repente do fundo do sonho

uma nesga de luz surgiu enquanto

os olhos da víbora ficavam da cor do céu

- dei-lhe espaço a meu lado e logo atrás comigo ela partiu.

Acordei, a vida passou como sonho,

só mais trade soube o que era amor.

E soube o que era amor quando senti ligeira dormência no peito,

a primeira doce e cega mas verdadeira cobra companheira

fora apenas mensageira do Amor incrustado nas presas da segunda

- esta que ainda vai comigo para a vida inteira.

*

*

Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 15/02/2016
Reeditado em 23/03/2019
Código do texto: T5543983
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