Na violência do fluxo e da força
Sou um otimista sem utopia e um pessimista sem depressão.
Na violência do fluxo e da força
(Inspirado no livro 'violência' de Slavoj Žižek)
Nunca mais tive amor por ninguém,
Mas falo de amor mesmo – aquela paixão de amor,
Mão suada, pensamento obsessivo,
Viver sonhador em voos corriqueiros...
Quase um pesadelo bom, bom horror;
Por diversas pessoas tenho afeições inquietantes e derradeiras,
Tenho apegos, mil admirações, contemplações, tesões e besteiras...
Mas não é amor;
Não quero que pareça justificativa,
Querer ficar bem na fita,
Mostrar-me sempre feliz...
Mas de que adianta fugir?
Pois até a não justificativa existe,
Mas não condiz.
Amor mesmo, de verdade, só tive um;
Foi soberbo e sombrio,
Maltrapilho e massacrante...
Amor de decepção abissal e humilhante:
Cadafalso – emudecendo-me os lábios – calafrio...
Tal qual aquele filho desgarrado,
Que passa a infância e a juventude contemplado,
Vendo ao espelho do mundo e do quarto
Traços parecidos com seus pais:
Aquele jeito de olhar da sua mãe,
Os olhos, sorriso, o mudo,
Aquela pequena aptidão por tudo.
E no pai vê aquele rigor com o vocábulo,
Aquela covinha proeminente no mento,
Orelhas quase coladas no couro pelado,
A altura, a forma do corpo, as sobrancelhas...
E mais tarde, mais adulto,
Ao cair de uma tarde qualquer
Descobre ser um filho adotado.
André Anlub
(4/1/16)