Devaneios Conscientes
Um ensaio mal dormido.... vem, te explico no caminho...
Escrevo no Recanto desde 2009. Com este tempo já me sinto à vontade para para chamá-lo só pelo primeiro nome.
É interessante como o eu literário é atemporal. Relendo meus devaneios (e já os chamava assim desde o começo, não é velhice precoce), relembrei de sentimentos como se os estivesse sentindo hoje.
Como poeta, admito que sou bem falho. Nunca me ative ao português literário, apesar de o admirar muito. Também nunca escrevi um texto como estou fazendo agora, sem rascunho ou ensaios. Sempre tive o Recanto como uma válvula de escape, e este sempre demonstrou muito bem como andava minha saúde mental. Alias, trabalho com isso agora.
Sou enfermeiro em um CAPS, e adoro meu trabalho. Não porque me sinta altruísta, benevolente e "ajudador" de muita gente, não. Mas porque (essa é a segunda vez que fico em duvida com o porque, só pra constar) a cada dia me vejo mais errante, neurótico e frágil, assim como as pessoas que atendo. Vejo-me (acho que acertei o portugues!) orgulhoso, irrepreensível e muita gente me vê agora como o famoso SSS - sujeito de suposto saber. Luto contra esse lugar. Luto contra minha vaidade, adquirida pelo "Esse caso é perfeito para o Charlon, ele dá conta." Confesso que muitas vezes perco a luta.
Todas essas admissões, que outrora seriam impossíveis de se revelarem, agora pedem para saltar do peito, pedem espaço nesse meu ser em construção e eu acho isso incrível. Não fosse assim, jamais diria isso na praça publica do Recanto. Aqui, a gente quer ser o eu idealizado, aquele que "venceu na vida", aquela pessoa culta e super legal que todos amam ler e ouvir. É tipo Facebook né? Confesso que a uns vários meses atras não seria assim comigo também, mas, também confesso que sempre curti ser gente. Gente que quando compra o pão fica preocupado em não parecer muito ansioso logo de manhã quando responde antes do padeiro terminar a pergunta. Gente que empina o peito quando entra no busão fazendo o tipo elegante. Gente que quando vai morar sozinho e volta à casa dos pais fala firme pra parecer que está seguro e no comando da própria vida. Gente que quando vê uma pessoa dando show na fila da lotérica diz: "Se fosse algum tempo atrás esse cara ia ver comigo". Gosto de ser gente. Pra ser mais popular e comercial posso dizer: "Amo muito tudo isso!". Aprendi a dar uma calada quando convém mas preciso melhorar isso. Putz velho, pra resumir, posso dizer que reencontrei minha fé (que alias, sempre esteve aqui) e encontrei um amor que me ama. Um leitor da madrugada desavisado pode pensar: "Que cara piegas, isso todo mundo fala". Pra você, meu querido leitor, eu digo que é isso mesmo. Simples assim. Encontre sua fé e encontre um amor. Porque ali, citando mais um clichê, ali, estará o seu tesouro. Contudo, sempre vai depender do que é valioso pra você.
O que é valioso pra você?