Instante de bar
Tanta perna, tanta porta.
Vejo sombras na cidade,
coisa térmica que se espalha
por entre os corpos,
minhas mentiras sinceras
que se vendem por entre os copos,
automóveis nervosos,
gente nervosa,
coisa de Deus
e outras tantas curiosidades evolutivas.
Tanta perna, tanta pressa.
Menino brinca na porteira,
menino brinca de enfermeira,
meninas sentirão saudades.
Ladrão diverte-se nos arredores,
polícia protege o cidadão,
polícia quebra a cara do cidadão,
polícia quer TV,
polícia quer folga.
Tanta perna...
Carreiras na ladeira,
caveiras na lareira,
umas senzalas silenciosas
pela história e pelo sangue,
sobe preto, desce branco,
faca nos dentes, faca nos dentes...
Rainhas e peões
à procura de sabe-se lá o quê!
Risos escancarados na feira,
maridos desconfiados na feira,
adultérios na porta da farmácia
e tantas Marias doentes por macho.
Valha-me, Senhor
vede que somos homens,
e cá entre nós, fortes pra diabo.