SICURA

S i C U R A

Céu danado meu sinhô! Farta água, chuva num veio... As semente num broto,

Será qui o Nosso Sinhô se arribô?

Situação horrivi sinhozinho! Seca assim nunca vimu! Inté as ave do céu sumiru tudo daqui...

Foi, parece onti, qui os mananciar tava tudo cheinho... Inté nos corguinho curria as água de mansinho...

Paricia inté qui as ventania, lá de longe já vinha moiada. As pranta tudo gradicia, e ieu jueiava e gardicia nossa Mãe Paricida...

Os boi gradicia, os porco tomem... Inté o cachorro, as galinha, o pirú, o sabiá pro riba dos gaio...

Hoje, inté la longe meu sinhô, tudo tá seco! O capim marelô, a terra tá da cor das cinza...

Protras banda partiu o verde apesá dos nossos apelo.

Vê aquele pau grande, cheio de gaio riturcido, isturricado? Tinha pindurada uma caxa de abeia nele! Dava um mer gostoso, nóis ficava tudo melado...

Tinha água pra tudo, dicia do céu cada toró! Pricisava vê, sinhozinho, truvejava e rilampiava de dá medo! Quando a gente oiava prus Mandacarú, o medo ia simbora pru causa das baleza das suas fulo...

As bananera, tinha qui ampará de tão grande qui dava as penca! As laranjera prifumava, cheinhas de frô branquinha nas gaia.

Agora, qui é qui nóis tá vendo desde aqui inté lá longe donde as vista fecha de ardendo pru causa da luz desse sor vermeio no horizonte?

Nóis, ripara bem, só vê disgraça muita! É carcaça de bicho ispaiada pru chão, os gaio sem foia, capim marelo nas moita...

Dá uma sicura muito maió aqui dentro dos nossos peito! Farta de água mata tudo sinhozinho! Morre o coração, morre a ilusão, morre o intento...

Inté minha muié, qui é de uma bravura só, vôte, tá arriada de tristeza, chora muito, é de dá dó...

E nóis choremo tomem, eu, nossos fio...

E pruque nóis num guenta mais, vamo sem tino simbora daqui!

Nóis vai tenta sigui cantando, andando e parando de deu in deu inté incontrá arguma água! Mas não essas dos nossos óio! Nóis qué um montão de água, mas de água lá do céu!

Nóis vai rezá muito mais de cem, mir veiz, pruque se nóis rezá só agora, só un tiquitinho assim, num adianta sinhô, o Pai si isquece de nóis! Isso, nóis muitas veiz já fez!

Nóis vai rezá é sem pará, muito mais de mir veiz o qui nóis já rezô, inté Deus Pai, Nosso Sinhô iscuitá nóis, ovi nóis e intendê, qui nóis tomem semo fio d’Êle! Pr’Êle mandá incharcá essa terra todina de novo cum muito Amô!

As veiz nóis pensa... Se nóis caminhá dia e noite sem pará, cum fé no Pai, lá pras banda do sur, a gente vai incontrá o qui nóis qué! Num é meu sinhozinho?!

Pode sê só uma chopana, ô um bangalô véio, cum parede qui pode sê di adobi, cum o teiado caindo... Isso tudo ieu inté cunserto!

Nóis vai vivê muito filiz se água lá tive! Nóis vai abraçá as arvre cheia de foia! adispois, cumê e chupá muitas fruta doce...

Nóis vai inté deitá e rolá no capim verdinho, ieu, minha muié e nossos fio...

Sinhozinho, tá ficando tarde, adiscurpe! Inté mais vê, inté!...

autor: Pedro Lecuona Brasil

PEDRO LECUONA
Enviado por PEDRO LECUONA em 04/02/2016
Código do texto: T5533669
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