ERA
E R A
Disparou no tempo como um alazão largado das rédeas.
Era mais embriagador que o álcool.
Era mais entorpecente que o ópio.
Era mais quente que a lava de um vulcão.
Era mais possante que o mais arrasador terremoto.
Era mais terrível que o horror de uma queda em um abismo.
Era mais temível que uma terceira guerra mundial.
Era mais insondável que os segredos da natureza.
Era mais vasto que o universo.
Era mais resistente que mil colunas de concreto.
Era mais devastador que a mais potente bomba.
Era mais brilhante que o mais brilhante dos astros.
Era mais límpido que o vácuo.
Era mais fértil que a Terra.
Era mais alucinante que o gozo dos amantes.
Era mais tétrico que a cena de um requintado crime.
Era mais etéreo que o éter.
Era mais que um facho de luz a transpor montanhas e mares.
Era mais que um raio a perfurar o infinito diluindo galáxias.
Era mais tenebroso que uma noite de temporal devastados.
Era mais fantástico que um potente ciclone.
Era mais inteligível que um idioma estranho.
Era mais dorido que a agonia do ser à hora fatal.
Era mais pesaroso que a saudade.
Era mais penoso que a agonia do último dragão.
Era mais desolador que o erro ao atleta.
Era mais dorido que a dor mental.
Era mais angustiante que a espera de quem nunca virá.
Era mais sentido que a lâmina de uma espada no ventre.
Era mais verdadeiro que a verdade.
Era mais misterioso que o mistério.
Era mais eterno que a própria eternidade...
Era muito mais que tudo isso em apenas uma fração de segundo:
Era o derradeiro pensamento de um moribundo.
autor: Pedro Lecuona Brasil