Causo amoroso

Tive um namoradinho que gozava com palavras.

Contava de um gosto único de prazer

em me ouvir pendurar palavras a fio

desenhando meus sentimentos.

Na verdade, na verdade,

o que ele demorou a descobrir

é que eu pendurava, não palavras,

que essas, eu gostava mesmo é de voar.

Que voava universos inteiros delas

e que essas sim, penduravam meus sentimentos.

Encantava-me, por exemplo,

voar combinações palavrescas

que dessem conta de um penduricalho inteiro das vontades

e de cada saudade amanhecida

toda vez que ele ganhava mundo.

Meu namoradinho era bicho solto,

eu?

Bicho arisco.

Disso resultou a prevalência do namorico de palavras e órgãos

ao namoro de convenções.

Findo o caso,

palavras ainda se tocam

brincam,

ora de amantes

ora de amigas

ora de loucas,

e seguem.

Seguimos.