Foi Embora em Dose Dupla

E você foi embora, foi embora em dose dupla, embora da minha vida e da minha cidade, abriu a ferida e deixou saudade.

Eu vou sentir falta de tudo o que vivemos, vou sentir falta do espacinho no teu sorriso, das suas pintas que eu conheço todas, vou sentir falta das tuas gírias e manias, que agora são minhas, vou sentir falta de te ver dormir, e sentir uma invasão profunda de paz, vou sentir falta de sorrir te vendo fazer poses no espelho, vou sentir falta do jeito como senta largado, do seu jeito de moleque, andando descalço, vou sentir falta do abraço que estrala as costas, do seu peito, que aconchegava meu sono e de sempre seguir a mesma rotina: você sempre dorme primeiro. Vou sentir falta desde a descarga que você sempre esquecia de dar, da toalha molhada em cima da cama que você esquecia de tirar, dos seus dedinhos tortos, que adoravam estralar os meus, da sua fala mansa que pedia para eu parar de brigar, vou morrer de saudade de algo que parecia não ter fim, vou morrer de saudade do seu: "to na frente da sua casa, abre aqui pra mim". Vou sentir falta dos encontros inusitados no meio da rua, que eu nunca mais vou encontrar, não preciso mais andar atenta esperando te trombar. Vou sentir falta da felicidade que era matar a saudade de você, do seu beijo lento, sereno, que até calmo fazia enlouquecer. Vou ter que me conter, parar não te procurar nas pessoas que irei ver, para não procurar em todas elas uma parte de você. Eu nem lavei aquela minha blusa que ficou com teu cheiro, e ainda tem fio do seu cabelo loiro no meu travesseiro.

E o que mais me corrói, é não poder ter me despedido de verdade, é ter descoberto ás vésperas de você partir toda sua falsidade.

E eu que já havia me acostumado com você tão perto, tenho que enfrentar a realidade de que você está bem longe agora, longe de casa, longe de mim, e esse é o fim. Sem nenhuma explicação, sem nenhum beijo de despedida, sem nenhum pedido de perdão. Talvez seja mais fácil pra mim, recomeçar sem você por perto, mas foi tudo tão incerto, incorreto, você não teve consideração, tampouco compaixão. E o que restou, foi eu aqui no chão, tentando compreender o que te levou a ser tão frio, comigo que tanto te aqueci, que tanto permiti, que você entrasse por completo na minha vida.

Talvez isso seja mesmo uma lição. Que me fez aprender, que tu tivesses tudo de mim, e eu nada de você. Vai entender...

Débora Foz
Enviado por Débora Foz em 01/02/2016
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