O horto
No horto onde responsáveis somos, medra o que plantamos, o que deixamos crescer; sementes fortuitas, do vento, das aves, não vemos o pouso suave, mas, nascendo identificamos, moldamos o afazer.
Há ervas daninhas de blasfêmias, minúsculos brotos de incredulidade; fáceis de erradicar quando pequenos; crescendo, asfixiam ao arbusto da verdade;
Arestas de ignorância em pedras preciosas a lapidar, e vidraças suscetíveis dos que veem pedradas no sabão; a pressa do neófito que se disfarça a ensinar, pra suprir com pretenso sim, seu, inda imenso não;
A luta inglória do que contrapõe bandeiras a valores, favores ao dever, mal que tanto grassa; a sobriedade ocasional na consequência, e a causa enchendo-se de cachaça;
O ódio aos parâmetros virtuosos, e os bustos, aos ladrões envernizados; o ataque inoportuno dos medrosos, cujo desafio seria ficarem um pouco calados;
Porções nacionais de imbecilizante, servidas toda noite, doses cavalares; como se estupidez precisasse de fertilizante, e já não tivesse entrada franca nos lares;
A ideia seria produzir hígidos e profícuos vergéis, lançando sementes e arando à terra; mas, nos lugares reservados às mãos colocamos os pés, falamos de paz e vivemos de guerra;
Até tentamos erradicar ervas más de nosso horto, mas, poder identifica-las é raro privilégio;
Aí pelas linhas retas nós escrevemos torto, resta buscar frutos silvestres nesse imenso brejo...