Dedos
São dedos de um pobre coitado. Quando abraçados fazem uma prece todo santo dia. Dedos que insistem em tocar. Anseio de estar em casa. Na sua epiderme: bege por fora com cores fortes por dentro. A cor que devolve a vida. Morte há muito tempo esquecida.
De repente um desvaneio bate à porta. Ele surge como não quer nada. Pede e implora: não a deixe partir.
Resolvo então com os dedos agarrar o seu corpo, grudá-lo junto ao meu. Amarro com uma corda na cadeira do tempo, para nunca mais partir. Deixo-o quieto, pequeno e de castigo por sair correndo, rindo pelas costas, de mim.
Mas os meus dez dedos são tão estrambelhados! Que esqueceram que o amor não para. Não conseguiram nem sequer dar um nó bem amarrado. Além disso, perderam os papéis onde o amor anotou os recados, de quem não sente nada por mim.
Ajoelho na cadeira do tempo. Partido a esperar. O coração em forma de vaso quebrado, me faz rezar. Um outro amor para vir me consertar.