Último lápis

A ponta do meu último lápis quebrou. Sem ideias completas semeio o incompleto, não vinga nem uma ilusão. Os meus sentidos envenenados trituram-me dentro de um liquidificador.

Tudo que eu faço, desfaço, e em seguida dão-me um parecer: "Escreva quando a ideia surgir". Mas não adianta, parece ser em vão.

Ao balançar minha mente, surge o zumbido; um pernilongo me alcança. Entra na mente e vai embora. Então me questiono:

As luzes das ideias foram todas queimadas?

Em pé eu fico, mas logo o sopro do vento me atinge. Baleada caio na cama, ou da cama?

Deturpo realidade versus sonhos. A linha tênue de uma boa noite. Linha que foste responsável por me fazer de tola.

Esta noite sinto o corpo sangrando. A certeza abre meus olhos. Enxergo que estou ficando louca. Por instantes, ouço sussurros; são minhas próprias palavras não escritas, assassinas, que me enchem de feridas com um punhal no peito. Elas pedem para nascer e não nascem.

Sem nenhum lápis eu vou compondo ideias abstratas. Elas me atacam de surpresa durante plena madrugada. Corroída, aos poucos, elas que me matam, renascem.

Assim, vou me descobrindo no berço da esperança de minha cama. O porvir da luz da manhã. Um outro eu, sem mais nenhum fio de escuridão.

Sara Knack
Enviado por Sara Knack em 17/01/2016
Reeditado em 12/11/2020
Código do texto: T5513857
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