A ESTRELA DAS CRIANÇAS

Havia no céu uma estrela brilhante

que gostava muito de crianças.

E todo dia quando Deus vinha passear nas nuvens

ela corria ao seu encontro e dizia:

- Pai do Céu, eu gostaria de descer à terra

para brincar com as crianças.

Poderíamos brincar de roda...

Poderia falar a elas sobre os mares, os ventos,

o sol, a terra, a lua, as plantas, os animais

e sobre os homens de todos os continentes.

Poderia lhes contar estórias bonitas

reinos encantados, príncipes e princesas

Sobre magos, fadas, bruxas, anjos,

mãe d’água, cobra grande, sacis e curupiras.

Poderias lhes contar também histórias da história,

pois daqui de cima vejo tudo e sei de tudo.

Poderia, ainda, iluminar os seus caminhos

com meu brilho intenso, minha luz.

Enfim, gostaria de estar perto das crianças

pelo menos por algumas horas diariamente.

Papai do Céu ouvia tudo pacientemente

e depois argumentava:

- Olha estrelinha,

as crianças são peraltas

e as vezes fazem muitas traquinagens.

Depois, as crianças também crescem,

tornam-se adultos,

esquecem as brincadeiras infantis

e não querem mais ouvir estórias,

pois passam a fazer a história.

No futuro, talvez tudo isso te entristeça

e te cause um profundo arrependimento...

Mas a estrelinha se mantinha firme e insistia:

- Mas eu quero Papai do Céu, por favor...

Um dia, ante tanta insistência,

O Pai do Céu, com o seu ar bondoso, disse:

- Muito bem, estrelinha! Vou atender teu pedido.

Irás à terra e ficarás com as crianças como queres,

mas não podes ir como estrela,

irás como mulher.

Vá tomar conta das crianças.

Conte a elas tudo o que viste daqui do alto

e o que sabes.

Ah! mais uma coisa,

não esqueça de cantar e brincar também.

Desça, as crianças já te esperam...

Dizendo isso ficou olhando de sua janela lá no céu

para a estrelinha feliz,

que ia em busca de realizar o seu sonho.

Ia feliz, muito feliz.

Era uma radiosa manhã de sol.

As crianças, quando a viram,

correram em sua direção gritando em coro:

- Chegou a professora! Viva a professora!

E a feliz estrelinha corada pela emoção

deu as mãos às crianças

e antes de cantar a primeira ciranda

pediu a todos:

- Crianças me chamem de Tia...

E daquele dia em diante

brilhou só para as crianças

iluminando as suas mentes...

Papai do Céu, que tudo via,

sorriu satisfeito e disse aos anjos da guarda:

- Agora vocês podem dormir até a aula acabar.

Em seguida fechou a janela do céu

e foi cuidar de outros afazeres...

Na terra era dia grande, sol já alto

e a estrelinha feliz

brilhava só para as crianças...

Bragança, julho de 1983.

Para Veridiana.

Não tenho como precisar se este texto foi escrito na data do seu nascimento. Pelo menos, foi no mesmo ano e no mesmo mes...