A CAMINHO DE CASA


Mauro Martins Santos - Moji Guaçu-SP - Brasil

"Sem a curiosidade que me move,
que me inquieta, que me insere na busca,
não aprendo nem ensino."
- Paulo Freire -



No caminho de volta para a sua casa
Meditava sobre seus tios e o irmão
Que lutam entre si; não sabia a razão.
Só porque morava no Norte da Irlanda,
E seus tios no Sul, era motivo para tal?
Por que se odiarem tanto assim...!?

Havia no caminho um muro de pedra
Muito longo a se perder no horizonte;
Era baixo de pedras amontoadas à mão;
Quando cansada de andar ela se sentava
Em seu topo, nas tardes e nas manhãs
De risonha primavera ou cálido verão.

A caminho da vivenda, cabana de madeira,
Encontrava às vezes com o senhor Mc Neill
Que voltava de seu pomar de maçãs brancas,
Cuja casa de entreposto também era correio,
Ela apanhava as cartas que vinham do irmão
Em luta civil, a se matar, “não sabia a razão”!

Sonhava a garota, receber talvez um dia,
De firme caligrafia, uma bela carta de amor;
Seus ruivos cabelos meneava em desilusão.
Como possível seria com tanto ódio e dor
Misturado na luta o sangue dentre irmãos,
Rijos os mortos sob o luar e a neve já frios...!

Diga-me senhor Mc Neill, por que este desvario...
Tantas batalhas, grupos de assaltos tão traiçoeiros,
Crianças inocentes, que corriam atrás de uma bola,
Com suas lancheiras ainda cheirando a pão caseiro,
Aos gritinhos, repletos de liberdade e brincadeiras...
Perto do bosque existiu uma igreja ao lado da escola.

Escombros da escola na orla do bosque verdejante,
Não se via a cascata, nem a professora nem mais nada,
Ninhos de passarinhos queimados no meio da fuligem,
Um esqueleto de cobra seccionado no arbusto morto,
O torpor ainda que jovem, sofria toda aquela vertigem,
Via a adolescente que em breve, não restaria mais nada!


Indo para a casa de Alexia Ó Sweeney, na estrada,
Havia um regato, uma ponte e uma escola erigida,
Com crianças cantando como sapinhos o bê-á-bá;
O caminho de sua casa só tinha agora volta não ida,
O ar de fumaça negra de pólvora e pneus queimando,
Antes cheirava a flores, bolos, livros, e lápis aquarela;

O senhor Conan Mc Neill traz de maçãs um cesto,
Para no estoque de frutas do entreposto guardar;
Vê Alexia e diz: “Não siga adiante”, como pretexto
A resguardá-la dos rebeldes que a poderiam matar,
A jovem de quinze anos, rosa rubra de rara beleza
Ingressa nos horrores de uma guerra sem imaginar!

O velho amigo dos pais de Alexia, já sabia o ocorrido,
O preletor unionista que foi além da floresta às colinas,
Trouxe a triste notícia: os pais de Alexia tinham morrido.
Os republicanos do IRA, incendiaram as casas da aldeia,
E tudo mais que fosse plantações, pomares até minas!
O batedor, de Mc Neill, relatou sobre os mortos e feridos .

Alexia transformou-se jovem-adulta, da forma mais dorida.
Que fazem com as pessoas, usando o nome das religiões...!
Nem católicos, nem protestantes - puro pretexto das Nações.
Política, etnia, extração de riquezas isto é o móvel de vida,
Alexia em revolta pegou em armas, querendo fazer justiça,
A Causa diz entender o matar; mas não muda as definições.

Milhares de civis inocentes morreram na Irlanda do Norte,
Pela obstinação da Commonwealth que desde os anos 60
Não aceitam a independência daquela parte menor da Ilha,
Muitas ingerências complexas permeiam tudo o que se tenta,
O Norte é a sexta parte do todo, chamado de "protestantes",
O resto dito "católico" ( cortina de fumaça) é uma armadilha!


***
Nota:- VALE DIZER - USAM EM TUDO E POR TUDO, NOMES DE RELIGIÃO ,DE FORMA CONVENIENTE, UMA CORTINA DE FUMAÇA
PARA TAPAR AS VERDADEIRAS INTENÇÕES DE QUEM DETÉM O PODER SOBRE UMA ETNIA, POVO, NAÇÃO, FRAÇÃO DE NAÇÃO.
ABREM MÃO PARA UMA PARCELA - NO CASO A ILHA DA IRLANDA - CONSIDERANDO O LADO REPUBLICANO “CATÓLICO” O QUE SERIA
A REPÚBLICA DA IRLANDA E, DESDE MARGARET THATCHER, CURIOSAMENTE TENDO SOFRIDO UM ATENTADO A BOMBA EM UM HOTEL (REINVIDICADO PELO IRA - EXÉRCITO REPUBLICANO DA IRLANDA) A MAIS ATUANTE FACÇÃO TERRORISTA FORMADA POR “CATÓLICOS”.

A PROSA POÉTICA, QUER MOSTRAR O JOGO DE INTERESSES,
COBERTO POR SIMULACROS DENOMINACIONAIS, QUE A HISTÓRIA VAI MOSTRANDO E TECENDO PAULATINAMENTE A VERDADE
- NÃO OS ESCRITORES, POETAS E DEMAIS ARTISTAS -, QUE QUEREM SOMENTE FAZER LITERATURA OU ANÁLISE DE FATOS À LUZ DA HISTÓRIA, DA POLÍTICA E DO USO DAS FORÇAS MILITARES E GUERRILHAS MERCENÁRIAS  A SERVIÇO GEO-POLÍTICO DOS INTERESSES DOMINANTES.
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 15/01/2016
Código do texto: T5511539
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