No 81º dia de um ano comum
No 81º dia de um ano comum, só me pertence o que liberto com um beijo, numa felicidade às avessas, um beijo liberto como o beijo das aves e das borboletas, atordoado de sol a pensar-te e a deixar-te em arco por sobre as calçadas do tempo e o mar revolto, um beijo emaranhado de insistentes abraços e afagos, amanhecido de chuva e encantamento, quando a luz pede um sorriso e a lua atravessa o sonho prenha de nuvens de estrelas. No 81º dia de um ano quase comum só me pertence o que liberto a caminhar num caminhar de mãos e sentidos até os frutos do quintal e o cheiro forte do café da manhã chamar nossos pés descalços a beijar o chão pelos telhados da casa.