A PORTA
Ainda podia ouvir os ruídos
o ir e vir de todos
as palavras trocadas
aos seus pés.
O jeito apressado
ou aveludado
com que cada um a tocava.
Onde estariam todos?
Será que também dela se recordavam?
Quanto tempo já se passara?
Ela não saberia dizer.
Desde que mãos insensíveis
a arracaram do doce convívio
e a abandonaram ali.
Para a sua sensibilidade
parecia ser uma eternidade.
Sentia falta de cada um deles
e a ausência de todos
lhe consumia a alma delicada.
Sobraram-lhe as "miudezas"
e essas, não havia quem
pudesse surrupiá-las.
Tempo algum iria desgastá-las.
Se um dia, pó viesse a ser
levitaria pelo ar carregando-as
elas estariam embebedadas
de pura saudade
de doces lembranças.
(Imagem: Lenapena)