Inexistência

Sou uma farsa de origem questionável. Um comportamento ardiloso que induz ao engano. Tumultuado desembarque. A psicose, os demônios. Quem me olhar à espreita da janela de mim talvez consiga enxergar minha inexistência. Você consegue perceber o quão cortantes são os estilhaços em minha cabeça? Consegue ouvir a ausência de meus ruídos? Diferenciar meu desânimo da indiferença? Meu olhar prostrado pesa consternado. Meus pensamentos algures ainda conseguem capturar paisagens vazias fotografando despedidas minhas. Dizem que tenho cheiro de lágrimas acumuladas e sono perdido que atravessou madrugadas com os olhos erguidos e parados. Preciso dopar-me de irrealidade. Prender-me, de modo que não toque no chão, nos galhos da incerteza. Quem sabe externar delicadezas. Por alguns dias as paixões ficaram em silêncio. Mas resolvi cercar de granada meus desejos mais insanos e revirar sepulturas de alguns sonhos mortos. (Des) existir. Suscitar incógnitas. Espiar o abismo de mim. Nem mesmo as esquinas me recordam. O pôr do sol dos fins de tarde esqueceu meu nome. O colibri que me visitava todas as manhãs já nem reconhece meu aroma. Passo o tempo presente rastejando sob o arame da cerca de minha auto frustração. Recolho-me a esta minha insignificância absorta. Nada mais me encara, por isso, nada mais me encanta. Nesses dias que correm, como despertar um sorriso sem gume?

Hellen Leandro (02/01/2016)