Briga no Gambazar.
A história que conto agora
É atendendo a um pedido
Quero contar com detalhes
Pra nada ser esquecido
Fazendo todo relato
Abordando este fato
Que lamento Ter perdido
Foi sábado ao entardecer
Que se juntarão pra beber
E também matar a saudade
Tudo tava muito bom
Tinha bebida a vontade
O carteado corria solto
Todo mundo no conforto
Pagando tudo certinho
O Augusto o Tonhão e o Quinho
O Grilei o tiririca e o Adão macaco
Jogando sinuca no taco
Dava gosto de se ver
Jogaram até escurecer
Sem nenhuma discussão
De repente o Tonhão
Abriu o peito a cantar
O Adão a gaguejar
E só não se completou
Porque o Adão quis embrabar
Pôr causa da pinga terminar
Reclamou pro seu companheiro
Pois não tinha mais dinheiro
E a barriga vazia
Para o Girlei dizia
Falando de cara feia
E torcendo um das orelhas
Se mostrava irritado
Mas não ficava calado
Sempre falando as neiras
Pra fazer verso rimado
Não escolhia o momento
Mostrando seu talento
Mais parecia um disco riscado
O Tonhão passava a mão no bigode
Coçando aquela barba
Mais parecia um bode
O tiririca foi pro bingo
Deixando os outros na mão
Ficando só o Augusto o Girlei
O Quinho e o Tonhão
O Adão macaco e o Nero
Não queriam confusão
Ficarão batendo papo
Do outro lado do balcão
Mas sempre tem um metido
Que bebe pra enche a barriga
Basta olha atravessado
Que eles já querem briga
Discuti o preço do samba
E mesmo com as pernas bamba
Fica chio de razão
É só da um tropeção
Pro cabra sai rolando
E ainda fica resmungando
Fazendo uma ladainha
Querendo tirar farinha
De um saco de feijão
Na saída pra ir embora
Deixarão as proposta feita
De chiru que não enjeita
Uma peleja pôr nada
Enfrenta qualquer parada
Parece galo de rinha
Com a espora afiada.
O Adão o Augusto e o Tonhão
Foram até a esquina
Mas parece uma sina
Da valentia de um guapo
O Tonhão queria ir embora
Para não levar sopapo
Mas o Augusto valentão
Até mesmo no Tonhão
Já queria baixa o sarrafo
O Adão e o Tonhão
Sairão estrada a fora
Exatamente na hora
Que o Augusto ia voltando
Para iniciar o confronto
Caminhando meio tonto
Parecia cercar o frango
Ou então dançar um tango
Mas até que ia ligeiro
Já fez proposta pro Nero
Que soube sair do bolo
Tirando o corpo fora
Botando os cabra na estrada
E fechando a porta na hora
Os três saindo pra ir embora
Começou a discussão
Elogio de todo lado
Na base do palavrão
Troca de soco e pontapé
E salve se quem puder
No meio da escuridão
Ninguém se entendia mais
Ali naquelas alturas
Emparelhando o saibro
Trabalho da prefeitura
Foi uma luta e tanto
Todos querendo ganhar
Uns tentando correr
Outros pensando escapar
E o saibro velho comendo
Não parava de esfolar
De repente surge um gato
No meio da gambasada
Escuro que era um breu
Não dava pra se ver nada
Mataram o pobre do gato
Que não pode se escapa
Parece que estavam com febre
Em vez de gato pôr lebre
Mataram gato pôr gambá
Então chegou o socorro
Quando a briga tava feia
Correndo sangue da testa
Do nariz e da oreia
Chegaram a troca o pneu
E sentiram muito mas não deu
Pra tira o coro praz correia
Um que ganhou carona
Não se deu pôr derrotado
Dizendo que ali na lona
Não ia ficar deitado
Pulou pra fora do carro
Pois não queria ir embora
Sem afogar um no barro
Depois de acalmar os ânimos
Levaram o cara embora
Mais ou menos meia hora
Chamaram pela patroa
Que atendeu numa boa
A porta logo abriu
Sentindo um arrepio
Quando viu o tal sujeito
Com o sangue correndo solto
Até pensou que tava morto
Mas deu um sinal de vida
E já saiu cambaleando
Prenderam ele no banheiro
E ficaram escutando
Levando um baita susto
Acho que foi o Augusto
Que caiu e tá esperneando
Abriram a porta ligeiro
E já sentiram o drama
Levando ele pra cama
Para se curar primeiro
Melhorou um pouco com o banho
E foi saindo pra frente
Mostrando que era valente
E o desejo de vingança
Chegando acordar as criança
Mas logo já foi contido
Depois dele Ter caído
A esposa usou da sua maneira
Sentando numa cadeira
Em cima do atrevido
No outro dia um Domingo
Eu com ressaca do bingo
Até que levantei sedo
Mas confesso tive meto
Quando cheguei na estrada
E vi aquelas pegadas
O saibro meio espalhado
O pneu que tava ali
Encontrei do outro lado
Com umas marcas na berada
Peguei para ver de perto
E vi que era dentada
De quem viu ninguém entendeu
O que aquele pneu
Tinha a ver com a gambasada
Então chegou o tiririca
Contando o acontecido
Quando o Tô perguntou
Se ninguém tinha morrido
Ele respondeu que não
Mas a promessa era feia
Uns falando em escalpo
Outros em corta oreia
E foi chegando a noticia
Do brinque feito na estrada
Até carteira de dinheiro
Havia sido cambiada
Chinelo perdi a conta
Que tinha lá no capim
E ainda disseram pra mim
Que aquilo era só fachada
Que esta Sena inteira
Era só uma brincadeira
Feito pela gambasada
Pôr aqui vou encerrando
Com uma pergunta no ar
Brincadeira como esta
Quem é que pode gostar
Mas existe gosto pra tudo
É bem melhor escutar
Do que a gente ser surdo.