Possibilia
Fitei seus olhos fundos....
Contaram-me noites não dormidas, sonhos atrofiados, despedidas.
Mas, aqueles segundos, o silêncio, disseram mais do que anos à beira da mesa.
Havia um espelho no fundo daqueles olhos.
Um pedaço de mim jazia ali, projetado por minha mente cansada; roubado em algum momento do passado; um reflexo distorcido de alguma linha temporal.
As linhas de nossas vidas, de nossas faces e nossos olhares se cruzam e descruzam ao longo da história. Aí é que nos vemos pressionados por um paradoxo: Medimos nossas certezas pela exclusão das possibilidades. Todas as possibilidades são o que nos dá a liberdade. Só meço se tenho liberdade para fazê-lo, meço porque tenho incerteza, tenho certeza se e somente se tenho incerteza.
Estiquei a liberdade ao longo de minha linha temporal, assim, medindo todas as possibilidades concretas e esvaziadas pelas minhas ações, aumentando minhas certezas. Fina como um fio de cabelo, a liberdade parece desejar ceder aos últimos momentos pelos quais a estendo.
Foi quando este olhar fundo desconcertou-me. Não se trata de uma linha, mas uma teia. Cada nó, uma vida vivendo certezas e possibilidades diferentes. Em algumas delas, nossos olhares permaneceram assim, fitando-se fundos pelo espelho.