Quero-te!

Por baixo da tua pálpebra direita eu emergi.

Grafitando teu rosto de carmim, destilando desejo, cobiça, o puro veneno querente: sou teu par que aguarda. Sou a sede, o fervor, a teima, a afoiteza, a veleidade de te querer. Sou o apetite, a apetência, a orexia, a febre do ter. Eu te quero pelo infindo, pelo imperecível, pelo eviterno, eu te esperarei. Aguardarei imaginando o movimento dos teus lábios, de tua boca, das tuas coxas, num suposto despertar do teu lascivo e libertino desejo pós-jejum da carne que sucumbirá para mim. Tenho esperança.

Hei de chegar ao meu objetivo de não chegar a lugar algum. Hei de alcançar o que meu destino de não me destinar a destino nenhum. Eu só quero estar aqui, imóvel congelado, estarrecido, a te aguardar.

Morrerei de vida, desde que, nesse final, seja, ao menos, na impossibilidade te de (me) ter, enterrado sobre teu dorso, sobre teu lado: do lado que tenha tua frente que remete atrás. Quero-te!

Lui Jota
Enviado por Lui Jota em 14/12/2015
Reeditado em 14/12/2015
Código do texto: T5480353
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.