Quero-te!
Por baixo da tua pálpebra direita eu emergi.
Grafitando teu rosto de carmim, destilando desejo, cobiça, o puro veneno querente: sou teu par que aguarda. Sou a sede, o fervor, a teima, a afoiteza, a veleidade de te querer. Sou o apetite, a apetência, a orexia, a febre do ter. Eu te quero pelo infindo, pelo imperecível, pelo eviterno, eu te esperarei. Aguardarei imaginando o movimento dos teus lábios, de tua boca, das tuas coxas, num suposto despertar do teu lascivo e libertino desejo pós-jejum da carne que sucumbirá para mim. Tenho esperança.
Hei de chegar ao meu objetivo de não chegar a lugar algum. Hei de alcançar o que meu destino de não me destinar a destino nenhum. Eu só quero estar aqui, imóvel congelado, estarrecido, a te aguardar.
Morrerei de vida, desde que, nesse final, seja, ao menos, na impossibilidade te de (me) ter, enterrado sobre teu dorso, sobre teu lado: do lado que tenha tua frente que remete atrás. Quero-te!