Sofrimento
Como descrever o sofrimento? São tantas palavras inventadas para tentar explicar. Elas são rasas como a profundidade de uma lágrima, que rasga a pele do rosto como uma lâmina afiada pelo barbeiro. Talvez isso seja sofrimento...
Como explicar a dor que não se sente? Como explicar o peso, que pesa como mil toneladas no peito?
Às vezes me sinto sufocada, como se muitos me abraçassem, mas não há ninguém aqui. Talvez isso seja sofrimento...
Tranquei a porta do meu quarto, na esperança de ficar sozinha - ingenuidade a minha - meus pensamentos e lembranças têm livre arbítrio e a imagem daqueles olhos amendoados está em minha mente como uma pintura descontente, que Picasso guardou no sótão para não levar tristeza aos outros.
Quando forço minhas pernas cansadas e ando sem rumo, percebo que uma ideia, um instinto ou um caminho mais longo podem mudar um dia, um amor ou uma vida.
So-fri-men-to: devia tatuar em minha pele um dia, já que em minha alma se faz vestimenta.
Sabe, por vezes quero dominar o tempo, como uma cartomante domina suas cartas num transe hipnótico, herdado e aprimorado por muitas vidas.
Um dia reclamei que tudo passava rápido. O tempo se deu conta e diminuiu o passo, no compasso do meu embaraço.
Já nem lembro as horas, ou o ano. Não sei ao certo quantos anos se passaram.
Mas nas marcas de meu rosto podes ver que o tempo foi rigoroso, como o cabresto de um pai irado.
E afinal, o que é o sofrimento? Para alguns uma unha quebrada, para outros um coração partido, mas para mim o sofrimento é um amigo. O único que sempre esteve comigo.